11 de jul. de 2017

Nada foi em vão!

Bom, vamos lá. 

Agora irei fazer o que sei de melhor: me expor ao ridículo. Não falo isso com autopiedade, não. Sempre fui deste jeito. De dar a cara pra bater. De ter iniciativa. De não ligar que me julguem. É que está na hora de fazer um novo balanço e quero compartilhar com vocês minhas conclusões. 

Quando virei a mesa, em 2009, mudando da comunicação/cultura para o setor da saúde, dei sorte em conseguir emprego como auxiliar de enfermagem, assim que concluí o curso (era outro contexto político e econômico). Porém, a área que me acolheu foi a saúde mental e não era bem o que eu queria. Hoje, sou apaixonada.

Antes de me formar enfermeira, em 2015, ouvia muita gente falando, "profissional bom não fica sem trabalho na enfermagem", "hospitais adoram pegar enfermeiros recém-formados para moldá-los", "você é profissional e comprometida, vai conseguir logo uma colocação", "sua experiência como auxiliar e técnica é levada em consideração", "o melhor que você faz é estudar, faça pós também". Tudo mentira. Quero dizer, estavam tentando me apoiar e sou grata por isso. 

Atualmente, com oito anos de estudos em enfermagem (fiz a pós em docência, fiz o aprimoramento em saúde coletiva, comecei uma pós em urgência e emergência e sou técnica de enfermagem também) e seis anos trabalhando como auxiliar/técnica em psiquiatria, me defino como uma profissional com amplo conhecimento técnico-teórico na prática clínica em saúde mental. Mas isto não tem relevância nenhuma para o mercado porque, para trabalhar como enfermeira, precisa experiência e não são oferecidas oportunidades. A não ser que: a pessoa já esteja dentro do hospital como auxiliar; que conheça alguém dentro da instituição, que a empresa esteja apostando em você etc. Mesmo assim, vários colegas formados enfermeiros continuam atuando como técnicos dentro de seus hospitais. Um fator complicante: não tenho vontade de trabalhar em hospitais, especialmente, depois que conheci o SUS de maneira aprofundada. Gosto de promoção e prevenção da saúde, quero evitar que a pessoa adoeça, quero que ela se proteja, se previna, que mantenha a boa saúde ou estabilize sua condição. E entrar em AMA, CAPS, UBS é difícil porque as vagas não são abertas.

O que venho enfrentando desde 2016, enquanto ainda estava no aprimoramento e buscando colocação ao mesmo tempo, é o preconceito com minha idade. Fui preterida em uma residência em psiquiatria devido a idade e isso ficou claro na fala do entrevistador, que perguntou "você acha que aguenta 12h/dia de residência mais os finais de semana?". Em outro processo seletivo, comentários sobre minha idade foram mais evidentes, a entrevistadora dizia "você já está com 43, né?".

Além do mais, também enfrentei dificuldade em ingressar como enfermeira por meio dos processos seletivos, que fazem provas iguais para todas as especialidades e voltadas para quem tem a prática clínica rotineira (mesmo estudando, desculpem a franqueza, não dá pra lembrar todos os detalhes da saúde mental, da saúde da mulher,  da saúde do idoso, da saúde da criança... É mais fácil quando se está atuando! Cito, ainda, as seleções inescrupulosas e processos de ingresso em mestrados sendo contemplados mediante indicação em algumas faculdades. 

O sonho, às vezes, leva um "acorda" da realidade. Perdi a conta de quantas vezes "caí da cama". Mas não estou reclamando. Está "escrito nas estrelas" (para quem gosta de mapa astral) que nasci mesmo para ser multiprofissional, que gosto de estudar e que sempre vou  mudar quando me der "na telha". Enfrento, luto, batalho. Mas não sou do tipo insistente. Reconheço minhas limitações e, em tempos de crise (#foraTemer), tomar uma atitude é necessário. Por isso, viro a mesa mais uma vez. 

Após um ano e meio de tentativas para atuar no mercado como enfermeira, resolvi me afastar. E a vida, com esta mania de dar voltas, fez a comunicação e a cultura se reaproximarem de mim. Neste próximo semestre, vou atuar em uma nova função. Trabalharei muito, ganharei pouco. Até aí, nenhuma novidade. O fato é que estarei em um ambiente leve, que me proporcionará prazer e beleza. Acho que, diante dos acontecimentos nos últimos dois anos, era isto mesmo que eu estava precisando. Acredito que vai ser muito legal e vou honrar esta singela oportunidade. Em agosto, vou comemorar meus 44 anos com um inusitado, mas satisfatório trabalho. É temporário? É definitivo? Não sei. Só sei que estou feliz. Não é isso que importa? Reinventar-se é preciso! Feliz aniversário para mim! 

Nada foi em vão.