28 de ago. de 2012

Composição dos produtos escrita em inglês

Há tempos venho notando que diversos produtos cosméticos e de higiene pessoal estão vindo com a composição dos produtos escrita em inglês nos rótulos. Sei que vivemos em um mundo de cultural global, onde quase todos se comunicam em diversos outros idiomas. Só não entendo por qual razão somente esta fundamental informação vem em língua estrangeira na embalagem. E, estando no Brasil, por quê sou obrigada a ler as informações de composição dos produtos que consumo em língua estrangeira? Por meio do site Reclame Aqui, obtive o rápido retorno de três grandes empresas do setor.

Seguem abaixo as respostas:

Resposta da Procter & Gamble
Prezado (a) Consumidor (a),  agradecemos seu relato nos contando a recente experiência que teve com a P&G.  Ficamos imensamente felizes por ter escolhido nossas marcas para fazer parte do seu dia a dia. Para que possamos entender melhor o que aconteceu, pedimos que, por favor, entre em contato com o nosso Serviço de Atendimento ao Consumidor através dos telefones informados abaixo, ou, se preferir, envie-nos um e-mail pelo nosso site: www.procter.com.br . Se sua experiência estiver relacionada a algum de nossos produtos, por gentileza, interrompa seu uso e reserve-o junto à embalagem.  Produtos P&G: 0800-701-5515  Produtos Gillette: 08000-11-5051 Produtos Wella: 0800-701-9276  Produtos Olay: 0800-724-0221 Produtos Eukanuba: 0800-177-321
Atenciosamente,
Serviço de Atendimento ao Consumidor P&G.

Resposta da Johnson & Johnson
Em relação à reclamação da Sra. Cinira, informamos que entramos em contato com ela e fornecemos as explicações a respeito do assunto.  Continuamos à disposição caso necessitem de esclarecimentos adicionais. 
Atenciosamente, Central de Relacionamento com o Consumidor Johnson & Johnson do Brasil
0800 703 63 63

Resposta da Unilever Higiene e Beleza
Prezada Senhora,
Agradecemos a mensagem recebida através do site Reclame Aqui. Uma funcionária do SAC Unilever entrou em contato com a consumidora Cinira e explicou para ela a nomenclatura INCI (International Nomenclature of Cosmetic Ingredient - Nomenclatura Internacional de Ingredientes Cosméticos).
Atenciosamente,
Unilever Higiene e Beleza.
Unilever Brasil
0800-707-7512
sac@atendimentounilever.com.br 
Unilever Brasil
0800-707-7512
sac@atendimentounilever.com.br

Tudo foi resolvido do ponto de vista do atendimento, que foi excelente. Procuraram-me, interessados, deram explicações e me orientaram. Disseram que a ANVISA determinou por lei, em 2005, que a composição dos produtos seria escrita em inglês, "porque seria melhor assim para eles". Ponderei às três empresas dizendo que milhares de brasileiros não entendem inglês e, hipoteticamente, se um consumidor  tiver alergia a algum componente da fórmula no cosmético, como ele vai checar isso se ele não entende outro idioma? Expliquei que eu, particularmente, entendo outras línguas e que não estou fazendo a reclamação pensando somente em mim. Enviei um email pra ANVISA, conforme fui orientada, porque não fiquei satisfeita com os argumentos. 

Eis aqui a resposta da ANVISA:
Prezada senhora,
a composição dos produtos cosméticos no rótulo deve ser descrita na nomenclatura INCI, visto que existem mais de 12 mil ingredientes utilizados em produtos cosméticos e muitos possuem, além da denominação química, mais de um nome comercial, a nomenclatura INCI permite designar de forma única e simplificada a composição dos ingredientes no rótulo dos produtos cosméticos. Dessa forma, o objetivo do uso da nomenclatura INCI é facilitar a identificação de qualquer ingrediente, proveniente de qualquer país, por ser uma codificação universal, com um sistema para todos os países sem distinção de idioma, caracteres e alfabeto. Logo, a nomenclatura INCI é adotada mundialmente e não se trata de um idioma específico. O emprego da nomenclatura INCI permite que o consumidor identifique, de forma mais clara, os ingredientes de uma formulação em qualquer lugar do mundo. Além disso, devido à grande diversidade de sinônimos relacionados a um único ingrediente, os erros de interpretação na leitura de componentes podem ser minimizados. 

Fiquei confusa com as expressões "codificação universal""sem distinção de idioma" e "não se trata de um idioma específico". Estou questionando justamente a utilização de um único idioma: o inglês. A distinção é gritante. E global é diferente de universal. Quem determinou que a língua inglesa é universal desconhece a existência de outros habitantes do planeta Terra que não fazem parte de seu enorme círculo particular. 

Pois então, ficou claro, como respondeu uma das empresas que contatei, "é melhor assim para eles", ou seja, para a comunidade científica. Parte-se do princípio que consumidores do mundo inteiro leem, ou melhor, entendem inglês. E também que todos os consumidores do mundo inteiro são verdadeiros mochileiros. Afinal, a ANVISA justifica que "o emprego da nomenclatura INCI permite que o consumidor identifique os ingredientes de uma formulação em qualquer lugar do mundo"

Na minha opinião, isso não favorece o consumidor brasileiro. O protocolo de atendimento está salvo nos dados de procedimento no site da ANVISA e gravei a avaliação sobre minha reclamação como "ruim".

11 comentários:

Programa Curumim do Sesc Carmo disse...

Rídiculo!!!! A Anvisa não pensar no consumidor!!!! Absurdo!!!! Ótima postagem Cinira parabéns!

Unknown disse...

Cinira, concordo plenamente com a sua observação. Num país em que mal se compreende o português, imagine o inglês! Você colocou em prática o espírito jornalístico de cobrar uma resposta das empresas. O problema é que nada favorece o consumidor.

Valeu!
bjos
Cléber Cândido

Anônimo disse...

E o que é pior: mesmo disposto a conhecer a nomenclatura INCI para saber o que tem no seu xampu a Anvisa não lhe ajuda, pois os links que ela disponibiliza no seu sítio não dão informação útil. O mínimo que ela deveria fazer seria oferecer essa base de dados diretamente no seu servidor.

C. Fiuza disse...

Anônimo, obrigada pelo comentário. Além do mais, o caminho para se comunicar com a ANVISA é dificultoso.

Fabrício disse...

Sempre me incomodou este fato. A decisão da Anvisa conflita com o artigo 31 do Código de Defesa do Consumidor, que exige informações de composição em língua portuguesa. Parabéns pela busca de informações.

Anônimo disse...

Fico impressionado com a estupidez das pessoas. Principalmente das que trabalham em grandes grupos empresariais e das que estão em órgãos governamentais. Entendi perfeitamente a razão pela qual os ingredientes estão em inglês (adotado como "universal"), o que facilita a identificação por parte dos técnicos (químicos, médicos, etc). Contudo, isso traz dificuldade ao consumidor. A solução é elementar: listar os ingredientes na nomenclatura INCI e TAMBÉM em português.

Unknown disse...

Olá,
Já faz algum tempo deste seu post, e as coisas continuam na mesma. Vejo tal situação unicamente como jogo de interesse financeiro das empresas, pois desta forma o consumidor fica totalmente desprovido de informações a respeito dos produtos que utiliza em seu próprio corpo. É como vc disse em sua postagem, fica suscetível a algum tipo de reação alérgica que possa causar pela falta de informação. Concordo com oq disse a respeito das respostas não serem nem de perto satisfatórias.
Estive reparando há algum tempo tais rótulos de grandes empresas e me sinto lesada, pois entendi que é direito do consumidor conhecer os componentes dos produtos que adquire.
É muito intrigante o fato de que não encontrei nenhum outro site ou blog que comente sobre o assunto. Gostaria de agradecer a pesquisa que fez, assim como ter questionado as empresas a respeito do assunto.
Se tiver alguma novidade sobre isso, peço por gentileza que me envie por email
elanamarques@yahoo.com.br
Tchau

Costanzo disse...

Cinira
Essa dúvida eu tenho há anos, mas você foi além e buscou a fonte. Aliás, fonte que me parece manipulada pelos fabricantes.
Gostaria de perguntar a eles por que o mesmo não ocorre com alimentos, já que existem outros 12 mil ingredientes que se utiliza na manipulação dos produtos que se ingere, porém cada empresa escreve na língua do país onde quer vender seu produto.
O mesmo não ocorre com produtos de beleza. Por que será? Concordo com sua dúvida em caso de reclamação por alguma irritação ou efeito danoso no corpo.
A mesma ANVISA é responsável por ambos os seguimentos.
Ouvi falar que no Brasil os produtos transgênicos não precisam ser identificados, mas aqueles que não o são é que devem ser identificados.
Exemplo: PRODUTO NÃO TRANSGÊNICO.
Assim, o natural seria o produto geneticamente modificado.
Isso é Verdade?

Anônimo disse...

Não faz sentido, levanto em conta que muitos desse produtos são fabricados no Brasil. Custa traduzir para que pessoas que não tenham acesso às traduções, não tenham dificuldade para compreender?! Isso nada mais foi que uma desculpa esfarrapada, visado o texto excessivamente rebuscado: falaram, falaram e nada explicaram (de acordo com a sua pergunta).

Lara disse...

Não são os Cientistas, é uma questão de "comodidade ou comodismo " de quem avalia.
Se comprar-mos um cosmético na Argentina por exemplo ele vem em Inglês e na língua mãe.
Apenas no Brasil não vem na língua mãe.

Pri disse...

Passaram-se 5 anos e o problema continua...nada mudou, a não ser o número de pessoas desenvolvendo alergias.

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