6 de jul. de 2009

Intro

Perguntaram-me se tive a peia do Daime ou se enlouqueci mesmo. Esta mudança repentina de área (da arte e comunicação para a saúde) aconteceu de uma semana para outra. Um dia, acordei querendo trabalhar com enfermagem. Mas, pensando bem, isso estava dentro de mim há tempos e só fui entender depois de me aproximar da área de saúde. A partir de agora, para poder dar início às histórias que já vivi nos hospitais e das que estão por vir, tentarei resumir a passagem entre o processo de mudança e minha formatura como, por enquanto, auxiliar de enfermagem.

De 1998 a 2008, sobrevivi do meu trabalho como assessora de imprensa. No começo do ano passado, estava me sentindo cansada de viver de forma autônoma e sem estabilidade. Naquele mesmo momento, meu "namorido" (hoje, ex) comentou sua insatisfação com o emprego fixo, dizendo que estava infeliz na função que desempenhava e pensava em pedir demissão. Ao apoiá-lo, entendi que precisaria realizar alguma grande mudança. Os dois atuando como profissionais liberais (clandestinos), sem conseguir fazer planejamentos (devido à instabilidade financeira) e a falta de vagas para trabalhos fixos no mercado (em nossas áreas) prenunciavam que, sozinhos ou juntos, não iríamos construir grandes coisas. Foi aí que tive um pensamento que iluminou minha mente de forma a gerar um grande e renovado entusiasmo em minha vida: vou estudar enfermagem. Lembro do alívio e da alegria que senti ao ter a clareza e a consciência do que estava desejando. E também fiquei refletindo sobre como as coisas acontecem em nossas vidas.

Desde pequena, apesar de achar o universo das ciências biológicas interessante, não havia nada em meu histórico familiar que apontasse para este caminho. Fui ser atriz, por influência de minha irmã mais velha; locutora, por causa dos colegas e amigos; e fui ser jornalista, por influência de meu pai (♫ parafraseando Nando Reis). A enfermagem entrou na minha vida por uma escolha exclusivamente minha. Sem indicação de ninguém. Talvez, o trabalho assistencial realizado pela minha mãe - como policial feminina - tenha deixado alguma base elementar. O fato é que ao fazer minha nova opção, comecei a enxergar e compreender os pequenos sinais que passaram por mim, mas que fui ignorando durante minha vida.

Quando criança, lembro que o ambiente hospitalar fazia parte de minha rotina porque meu pai estava sempre indo parar no hospital por conta de sua saúde debilitada. Lembro também da facilidade que eu tinha em lidar com cortes e curativos. Para mim, não era esforço nem sacrifício usar o merthiolate vermelho e ardido nos machucados. Eu gostava de exibir um band-aid no corpo e a coleção de hematomas nas canelas também. Lembro, sobretudo, de meus amiguinhos estropiados por suas bicicross e carrinhos de rolimã. Foi algo fascinante quando usei, pela primeira vez, água oxigenada em um ferimento. O efeito era muito legal. Nunca tive nojo nem aflição. Sangue também não me perturbava. Eu gostava mesmo de tratar o ferimento e cuidar da pessoa.

Na rua, no colégio, na faculdade, me aproximava de quem caía no chão e observava se podia ajudar. Apesar de perigosa, esta iniciativa nunca me intimidou e dei assistência correta, por instinto, de epilético a atropelada. Também sempre me preocupei em manter atualizada e bem guardada minha carteira de vacinação. Nem sabia por quê. Considerava um documento tão importante que conservei até hoje. Quando comecei a estudar enfermagem, a professora - no primeiro dia de aula - disse exatamente assim "o profissional de saúde precisar estar sempre com sua carteira de vacinação íntegra e em dia". Para mim, aquilo foi como uma confirmação do "chamado de Deus". E comecei a me sentir ainda mais à vontade com a novidade em minha vida.

Agradeço ao meu amigo Cauê Procópio (músico), ao meu amigo Ismael Caneppele (escritor) e a minha prima de segundo grau Alessandra Ribeiro Hernandes (anestesiologista), pelo estímulo para eu abrir um blog.

14 comentários:

Beleze disse...

Oi Cini!!! Adorei seu novo espaço!
Vou linkar no meu também. Quando der passe por lá. Anote aí http://aperteof.blogspot.com
Grande beijo e sempre boa sorte!

C. Fiuza disse...

Beleze querido, vc foi meu primeiro "comentarista"! Valeu pela força. Um beijo.

deborah scavone disse...

querida Cinira... faz anos desde a nossa oficina com o Vertigem, em que vc fez duas cenas das quais ainda me lembro. Você é uma pessoa muito especial.E pessoas especiais a gente (que ta antenado em gente bacana)guarda na memória. To acompanhando tudo (tudo bem que é de longe) na tua vida, e vejo que você procura manter sempre acesa a tua chama. Achei acertadíssima a sua escolha. Um chamado de cunho comunitário é muito lindo, na minha opinião. Eu mesma penso que um dia possa fazer algo assim. É nobre, é o certo no mundo de "gentes" iguais, sem porra de distinção nenhuma. Espero que você se sinta muito feliz, que possa realizar uma infinidade de coisas boas (pois o manancial que vc possui é imenso)e que Deus te ajude, sempre, a ser um ser humano fantástico. beijos, muitos, deborah scavone

C. Fiuza disse...

Puxa vida, Debbie... São pessoas sensíveis como vc que conseguem compreender a situação em toda sua totalidade. Vc sempre me deu um retorno, um carinho. E, de todas as suas facetas na arte, vc será sempre minha Marilyn Monroe! Com os olhos marejados, agradeço a sua infalível força. Um beijo.

Marcelo Pires disse...

Parabéns querida, gostei do seu blog, muito sucesso pra vc!!!! Beijão

C. Fiuza disse...

Marcelão, surpresa boa vê-lo aqui.
Valeu!
Um beijo.

Anônimo disse...

Linda! Que bom que resolveu escrever o blog! Beijos pra ti e continue escrevendo...
Cauê procópio

C. Fiuza disse...

Grande C.P., que bom que passou por aqui! Obrigada de coração. Deixe um beijo na nossa amiga Dinah que, naquele dia (lembra?), também fez campanha para a criação do blog.
Um beijo.

Programa Curumim do Sesc Carmo disse...

Oi Cinira, ... Márcio...
Não sou muito bom com palavras (escrevendo-as), mas gosto muito delas (bem escritas) e lí o seu blog de cabo a rabo como um bom livro...
Não vou ficar me alongando, acho que no seu caso das duas uma... um teremos uma grande enfermeira escritora... ou uma grande escritora enfermeira.
Lí muitoas coisas legais aqui que sinceramente acho om grande potencial... guarde-os para uma possível publicação.
Beijos

C. Fiuza disse...

Marcião, que alegria vc me deu! Com esta sua vida tão doida de afazeres, vc conseguiu dar um tempo e me prestigiar. Obrigada pela pausa e pela atenção, amigo querido! Vc é um visionário e acabou de me mostrar o horizonte de outra forma.
Um beijo.

Denis disse...

Oi Ci! Estou adorando seus textos, todos muito bem escritos e cheios de emoção e pequenas lições. Muito bom mesmo! Beijão!

Cátia disse...

Amigaaa Ciniraaa, Arrasouuu!!! O importante é que tudo que você faz é de coração e cheio de intensidade. A locução, as artes cênicas e o jornalismo sentirão a sua falta, mas ganhamos uma profissional da saúde, que de alguma forma usará a sua voz, a sua arte e os meios comunicação para defender não só a saúde, mas todas as causas q lhe forem justas. Parabéns por vc ser esta pessoa maravilhosa q eu admiro muito e tenho orgulho de ter como amiga. beijosss

C. Fiuza disse...

Cátia! Obrigada sempre por suas positivas palavras e por me acompanhar nestes momentos todos. Vc sempre torceu por mim e não esqueço isso. Obrigada, amiga querida. Um beijo!

C. Fiuza disse...

Denis, muito obrigada! Saudade de vc, amigo querido.
Um beijo de um janeiro de Verão com 16° em SP! rs...

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