Entram na sala de perícias, um homem e uma mulher, na faixa dos 40 anos, e uma garota de 13. Os dois adultos tiveram um caso de amor, há 15 anos. Ela engravidou dele. Naquela ocasião, eles se afastaram. Tomaram rumos de vida diferentes, mas nunca perderam o contato. A garota cresceu sabendo que tinha um pai. Encontravam-se, de vez em quando. A relação é tranquila entre os três.
Antes da coleta do material genético (sangue, neste caso), é realizada uma entrevista pela perita. Neste instante, apenas observo e aguardo. O ambiente está amigável. O casal é sorridente e a filha está animada. Os questionamentos são sobre informações pessoais, profissionais e familiares.
Em um determinado momento, é necessário que os periciandos (pai e mãe) respondam sobre "grau de parentesco". A perita pergunta aos pais:
- Vocês possuem algum grau de parentesco?
- (silêncio)
- Vocês possuem algum grau de parentesco?
- Oi?
- Quê?
- Vocês possuem algum grau de parentesco? São parentes? Irmãos? Primos?
Pai e mãe se entreolham, cúmplices. Sorriem envergonhados. O pai responde baixo:
- Somos primos.
A garota arregala os olhos para mim.
A perita pergunta, "primeiro ou segundo grau?". A mãe responde:
- Primeiro grau.
A garota abre a boca de espanto. E olha para mim.
A filha ainda não tinha entendido muito bem. E confirma com a mãe:
- Você é prima do meu pai??
"Depois explico, filha", e um sorriso "câimbrico" estampou o rosto da mãe.
A garota "fecha a cara". Fica pensativa.
A garota "fecha a cara". Fica pensativa.
Por alguns segundos, me senti dentro de um roteiro de novela das nove. Mas a expressão da garota, que mudou de animada para intricada, me fez discordar de Oscar Wilde e afirmar que quem imita a vida é, realmente, a arte.
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