9 de jul. de 2009

Para poder continuar...

Um fato importante precisa ser registrado aqui porque a cena mexeu muito comigo. Há uns quatro anos, eu estava no interior com meus familiares e uma prima estava acamada em sua casa, em fase terminal, moribunda. Durante 24hs, ficamos ao lado dela, dando a assistência necessária. Eu, no que pude ajudar, massageei os pés frios dela, enquanto ela ainda estava consciente. Uma movimentação grande de mulheres religiosas preparavam-na para a chegada da morte. Apesar de parecer sombrio, eu via poesia. O tratamento dado, o significado dos atos e as providências me comoviam. Foi ali que vi, pela primeira vez, um banho no leito. Perguntei a minha tia "mas, por qual razão precisa dar banho nela, neste momento?". Minha tia respondeu "e ela precisa ir embora suja? não, ela vai embora limpinha, pra chegar onde for de banho tomado". Fiquei calada, pensando. Houve uma hora na qual minha prima parecia bem. Estava sorrindo, os olhos avivaram, falava bastante. Pensei, "ela não vai morrer! pelo menos, não hoje!". Mas faleceu horas depois. Novamente, perguntei "ela tinha ficado boa! o que aconteceu, tia?". "Ela recebeu só uma visita da saúde", esclareceu. Fiquei mal, triste e reflexiva durante semanas. Acompanhar o processo agonizante e o último suspiro de um parente é dolorido, mas presenciar isso foi algo realmente transformador.

Acho que agora, depois de ordenar os acontecimentos na minha cabeça e tentar clarear a sua, posso começar a contar as histórias.

8 comentários:

Unknown disse...

Acessei o seu blog e foi legal ler seus relatos. Quando vc cita que já tinha vocação pra sua mais nova profissão, eu, humildemente, posso dizer que sou testemunha. Não sei se vc vai lembrar de um episódio que vou relembrar, na minha mente nunca esqueci e era vc que estava em cena! Nós estávamos nos corredores da faculdade, aguardando um final de prova, pra entrar na sala. A razão de estarmos no corredor eu não me lembro, só sei que éramos uns 10, 15 alunos. Estávamos no mezzanino, aquela parte do corredor que é aberta com visão pra porta da faculdade, e que tinha só uma "gradinha" vazada. Dali, a gente via perfeitamente a movimentação do térreo. De repente, um dos rapazes, que não era nosso colega, teve um ataque epilético! Caiu com tudo no chão, batendo a cabeça, fez um barulhão! Eu ali, totalmente aflita com situações que envolvem socorro ,saúde, sangue, fiquei estática, com as pernas bambas, não sabia se gritava, se corria, enquanto vc fez o seguinte: segurou o rapaz (muito maior que vc), evitou que ele caísse pro térreo (pq ele teve o ataque bem perto das grades), amparou a cabeça dele e depois lembro tb de ver vc pedido pra alguém tirar uma camiseta e te dar, e explicou que era pra ele não machucar a língua. E vc ficou ali cuidando dele até a crise passar. Nossa, como aquilo me impressionou! Eu não conseguiria nunca dar a assistência que vc deu naquele momento, é o que vc disse... Agir por instinto, vocação! Resolvi escrever tudo isso, pra vc saber que suas ações não passam despercebidas. Vc ajudou aquele moço e eu assisti tudo. Desejo muita sorte pra vc nesta nova jornada, viu! Sorte dos enfermos que receberem os seus cuidados! Um super beijo da Karla.

C. Fiuza disse...

Karlinha Teen! Menina, do que vc foi lembrar. Quem me ajudou com a camiseta foi o Fernando Novak, que tirou imediatamente, sem pensar. Que coisa incrível esta vida... Jamais imaginei que receberia uma mensagem sua com este teor. Fiquei comovida com a delicadeza de sua lembrança e fico feliz de ter marcado sua mente de um jeito positivo. Obrigada mil vezes pela visita e pela mensagem.
Um beijo.

Nando disse...

Só pessoas com um dom especial, como você, poderia dar um relato tão intenso!
Obrigado Cinira por me fazer parar por 5 minutos!

C. Fiuza disse...

Beleze, agradeço. Mas o privilégio é meu por ter vc como leitor, nem que seja por cinco minutos.
Um beijo.

BETH disse...

Minha querida prima, realmente voce é uma pessoa surpreendente,seguir está profição tão divina...,digo isto porque cuidar de pessoas doentes é de uma doação imprecionante,mas tudo que se propos a fazer, faz com muita dedicação e carinho,e olhe que posso dizer isto ,porque tive o prazer de te-la no final do ano em casa cuidando da minha dor na coluna e o alivio foi imediato.QUE DEUS TE ABENÇÕE NESTA SUA NOVA JORNADA BJOS

C. Fiuza disse...

Beth, minha prima tão amada (por mim e por todos), é uma honra ler (e ter) seu comentário aqui. Obrigada pela visita, pela mensagem, pelo apoio e pela gratidão. Se a bênção de Deus está vindo por seu intermédio, então, agora posso me sentir divinamente iluminada! Vc sabe, e sempre repetirei: em milhares de aspectos, vc é uma grande inspiração para mim. Um beijo.

geheimnis disse...

passei o mesmo com meu avô. é muito intenso ver alguém ir embora perto de você. se não fosse, não seríamos humanos.

C. Fiuza disse...

Isma querido, te reconheci pelos cabelos. Intensidade? Este é o seu sobrenome. Obrigada pela visita e pelo estímulo de criar o blog. Aposto que vc não imaginava o peso de seu empurrão! Bom saber que me olha!
Um beijo.

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