14 de mai. de 2016

Pílulas do CAISM*

Pergunto ao paciente:

- E você tomava as medicações direitinho?
- Tomava! 
- E por que será que você surtou? 
- Eu não surti! 
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A paciente me perguntou "que dia cai semana que vem? ". Não soube responder a esta. 
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Uma paciente disse assim pra mim, "Samira, você é mó gatona. Em que canal que você passa?".
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Enquanto isso, no trabalho, meu diálogo com a paciente:

- Agora eu vou pra lá.
- Pra onde?
- Pra lá no sofá.
- Não quer mais jogar memória?
- Não.
- Por que você não quer mais jogar?
- Porque quero esconder minha cabeça 
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Paciente de 47 anos, usa camisa polo fechadinha, pele bem branca, cabelos pretinhos todos
para trás, ganhou de mim um pirulito de coração e agradeceu dizendo, "isso sim é medicação". 
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Diálogo com a paciente:

- E os seus dentes são bonitos!
- Meus dentes?
- Isso. São bonitos!
- É dentadura!
- Puxa vida, mas que bela dentadura.
- É que fiz com o Dr. Abrão, um velho de 80 anos, especialista, reitor de uma faculdade.
- (???) Affe Maria...
- É! E nem preciso de orégano. 
- Não precisa de o quê??
- De orégano.
- Orégano???
- É! Aquele negócio que cola a dentadura.
- HAHAHAH! 
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O paciente me disse agora que pra falar com Deus é só pegar o telefone Dele.
Perguntei onde que pega e ele respondeu, “está na Bíblia o número!”.
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Conhecendo um novo paciente hoje, ele me pergunta, "você é da minha realidade?".
Respondi, "claro que sou". E viramos amigos. 

*originalmente publicado em meu perfil no facebook entre agosto de 2014 e janeiro de 2016

Touro manso*

Hoje tive um dos dias mais emocionantes da enfermagem em minha vida, se não foi o mais. Sou a referência de um paciente por quem sou apaixonada. Brinco que ele é maratonista. Mas é um pedreiro, taurino, de 40 e pouco, 1.85 de altura, magro, pele grudada nos músculos e não sente dor.

Doce, de fala mansa, sorriso de criança, é daqueles que detesta incomodar. Quem o vê chegando fica com medo porque - quando está sério - tem uma cara muito brava. Além da questão psiquiátrica, ele tem problema de má circulação que, dependendo da gravidade, dá uma coceira danada e abre feridas, especialmente nos tornozelos. Para evitar que o quadro piore, é preciso tratamento diário.

Fui fazer seu curativo pela segunda vez. Peguei todo o material, o encaminhei pra lavar os tornozelos com água e sabão e, depois de tudo seco, com ele bem acomodado, iniciei o procedimento. Com calma, passo a passo, fui cuidando das feridinhas, aplicando a medicação, colocando as gazes, enrolando a atadura... Primeiro no tornozelo esquerdo. Depois, fui para o tornozelo direito, menos prejudicado. De repente:

- Eu te amo.

Parei. Continuei. A respiração parou. Voltou. Não, não ouvi isso. Sim, ouvi sim. Sim, Cinira, você ouviu "eu te amo" do paciente que você está cuidando. E por estar cuidando dele, ele te disse "eu te amo". E isso é a coisa mais linda que já te aconteceu na vida.

Fiquei imaginando quanta gratidão este homem estava sentindo naquela situação. E fiquei sem reação por uns segundos diante deste momento surpreendentemente especial. A expressão foi tão diferente de todas que já ouvi... Tinha um peso leve, uma impacto suave, uma verdade sublime!

- E eu amo você também.

Respondi séria, olhando em seus olhos. Não podia deixar que ele me visse lacrimejando. E baixei o olhar rapidinho, retomando o trabalho.

*publicado originalmente em meu perfil do facebook em 28/02/2015

Atualizando as notícias

Caros(as) leitores(as), saudações!

Após trabalhar alguns meses no IMESC (Instituto de Medicina Social e de Criminologia de São Paulo), precisei admitir que aquela atividade não era exatamente o que buscava para mim. Foi muito interessante o aprendizado, mas meu comportamento culminou no desligamento. Enquanto isso, fui dando continuidade ao terceiro ano da faculdade de enfermagem – que estava empolgante – e passei a buscar um novo emprego.

Após dezenas de currículos enviados, dezenas de processos seletivos, provas e dinâmicas em diversos hospitais, eis que a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo me chama para uma prova. Havia tentado entrar na Santa Casa por três vezes. Será que dessa vez eu conseguiria? Nos processos seletivos anteriores, emperrava sempre na dinâmica. Fiz uma avaliação pessoal para tentar descobrir onde errava e descobri. Realizei a prova, passei. Realizei a dinâmica, passei. Realizei a entrevista, passei. E aproveito para deixar a dica a quem não passa nas dinâmicas: fale o menos possível! Quem me conhece pode imaginar como o meu jeito “bobo da corte” pode ter me atrapalhado. Mas usei a cabeça, desta vez. E estava prestes a realizar um sonho profissional: entrar na Irmandade Santa Casa. 

Fui selecionada para trabalhar no CAISM – Centro de Atenção Integral à Saúde Mental, hospital psiquiátrico da Santa Casa. Como auxiliar e técnica de enfermagem, adquiri muita experiência em saúde mental, especialmente em Álcool e Drogas, mas desta vez iria trabalhar com transtornos mentais. Área que amo, perto de minha casa, perto da faculdade... ideal. 

A seguir, alguns relatos do que vivenciei, nos quase dois anos de atuação no CAISM. Saí de lá com o coração partido, mas foi por uma causa nobre: o aprimoramento em Saúde Coletiva no Instituto de Saúde de São Paulo. Mas isso eu conto depois.

Boa leitura!

Revisitando a Saúde

Caros(as) leitores(as), saudações!

Para quem ainda não conhece o projeto Visita da Saúde, segue abaixo um breve histórico e elucubrações de planos futuros.

Há oito anos, criei este blog para me ajudar na compreensão e no significado de mudar do jornalismo para a enfermagem e também levar ao conhecimento dos amigos e familiares como esta transição estava se dando.  Aqui, é possível acessar postagens antigas (onde explico como esta "virada de mesa" se deu, minhas motivações, descobertas), conhecer minhas primeiras histórias na enfermagem (iniciadas com o curso de auxiliar) e se aproximar da realidade dos pacientes e da saúde brasileira, especialmente na capital de São Paulo. Aqui você não encontrará apenas meus "textões". Está nos planos fazer do Visita da Saúde um pequeno espaço de divulgação cientifica e uma singela agência de notícias da editoria de saúde, de acordo com a demanda das realidades que vivencio. As novidades são tantas... Saí do IMESC, trabalhei na Santa Casa, me formei enfermeira e agora atuo com pesquisa em saúde!

Obrigada a todos os 5.751 visitantes, que me acompanharam neste espaço desde julho de 2009 até agora.

Abraço caloroso.
Cinira Fiuza